quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Astrologia Moderna e Tradicional



Se você acha que a diferença entre a Astrologia Tradicional e a Moderna é apenas uma questão de usar ou não os planetas geracionais, então recomendo a leitura dos tópicos que apresento abaixo.
Há uma tendência em julgar que a Astrologia Moderna ou Psicológica é um desenvolvimento natural da Astrologia Tradicional praticada entre os séculos XI e XVI na Europa.
A Astrologia Védica e a Chinesa o são diferentes da Tradicional: ambas tem um conjunto particular de métodos e técnicas que não mantém relação com a Astrologia Tradicional. O mesmo pode ser dito da Astrologia Moderna, uma vez que ela é fruto do pensamento e das filosofias dos séculos XX e XXI, sendo independente dos métodos e princípios empregados na Astrologia Tradicional.
Vejamos então as principais diferenças entre ambas:

A Astrologia Moderna emprega em seus fundamentos uma base filosófica que não é astrológica em sua natureza:

O empenho de muitos astrólogos em tornar a Astrologia científica agregou diversos assuntos que são totalmente estranhos a ela: fractais, teoria do caos, física quântica, justificados pelos tratados de Freud e Jung.
A Astrologia tem a sua fundamentação filosófica no platonismo e no hermetismo, com objetivos espirituais que dispensam qualquer justificativa matemática ou científica. Estas correntes levam naturalmente para uma visão mágica ou religiosa dos movimentos celestes, pois são orquestradas por um ser divino em sua essência. E, a visão do céu dos antigos astrólogos era geocêntrica por uma questão de obviedade, uma vez que a Astrologia representa o que é visto.
Estes mesmos astrólogos modernos que introduzem as teses científicas, na maior parte das vezes, apenas as conhecem superficialmente. E talvez desconheçam autores clássicos como Ptolomeu, Vetius Valens, Manillius, Dorotheus, Al Biruni, Abu Mashar, Ibn Ezra, William Lilly, dentre tantos.

A Astrologia Tradicional vê as coisas separadas do nativo:

A Casa II é o dinheiro. Em Astrologia Tradicional representa os seus ganhos, o dinheiro que você ganha e gasta, suas posses, bens e recursos. Ainda, se ele virá facilmente e em quantidade; ou, ao contrário, será obtido a duras penas. Portanto, trata do dinheiro real, aquele empregado para pagar as contas e, eventualmente, a consulta do astrólogo.
A Astrologia Moderna avalia como você lida com o dinheiro, se ele lhe faz bem ou não. Trata-se de um “dinheiro mental” ou “emocional” e não o dinheiro de verdade. Como você se sente quando tem dinheiro? Esta é uma pergunta típica… Ou seja, a Astrologia Moderna tem um enfoque subjetivo sobre temas comumente objetivos.

A Astrologia Moderna interpreta apenas o Mapa Natal:

Desde o início do século XX e posteriormente, com o advento da Psicologia, a Astrologia deixou de tratar de temas objetivos prendendo-se exclusivamente em questões subjetivas associadas à personalidade do nativo. Esta, não possibilita fundamentação para o estabelecimento de previsões ou ainda, para outras técnicas como a Astrologia Mundial, Horária ou Eletiva, ramos da Astrologia Tradicional.
Deste aspectos, se desenvolvem dois outros:

A Astrologia Tradicional tem seu foco na predição; a Moderna, na explicação:

Ao interpretar o caráter do nativo, a Astrologia Tradicional tem como objetivo estabelecer as datas ou épocas em que os eventos prometidos no Mapa Natal ocorrerão. Na Moderna, explicar ou justificar seu comportamento diante das circunstâncias que o envolvem.

A Astrologia Moderna não gosta de dar más notícias:

O importante é que o nativo é dotado de livre-arbítrio para mudar a sua vida. E mesmo que o dinheiro ou a promoção não cheguem, isso não deve ser motivo de infelicidade…
Para dar boas notícias, a Astrologia Moderna mudou até alguns significados clássicos. Isso é mais visível nas Casas Astrológicas:
A Casa VI, tradicionalmente a casa das enfermidades e da servidão, se tornou a casa da saúde…
A Casa VIII, associada à morte, se transformou na casa do sexo e da transformação…
A Casa XII, do exílio e dos inimigos secretos virou a casa da espiritualidade…

A Astrologia Moderna não sabe o que fazer com as dignidades essenciais e acidentais:

Marte, o planeta do conflito e da discórdia, bem como, dos ferimentos em geral, se tornou o astro da iniciativa e da energia. Na Astrologia Tradicional, sua ação sobre as casas ocupadas pelos signos de Áries e Escorpião é tão importante quanto a casa que ocupa fisicamente.
Ainda, a Astrologia Moderna não sabe bem o que dizer quando um astro se encontra debilitado e tende a interpretá-lo normalmente.

A Astrologia Moderna foca a sua interpretação nos astros geracionais:

Um enorme paradoxo, pois a Astrologia Moderna se diz voltada para o indivíduo e tende a explicar as diferenças entre os nativos a partir de configurações de Urano, Netuno e Plutão, astros muito lentos e de natureza geracional!
A Astrologia tem sua provável origem em algum momento em cerca de 2400 aec, sendo compilada pela primeira vez sob Hamurabi, em cerca de 1700 aec. Floresceu no período da Escola de Alexandria, com enormes contribuições de astrólogos gregos e árabes. Esta é a base sobre a qual se fundamentou a Astrologia Tradicional, que ingressou na Europa no século XII, em plena Idade Média. 


Steven Birchfield é um dos melhores astrólogos que conheço. Com um conhecimento teórico enciclopédico, de saber as passagens de centenas de livros complexos de cor, e com um conhecimento prático fantástico, que beira o mediúnico, ele é uma pessoa muito generosa e me permitiu traduzir um texto dele para colocar no Blog.
Nesse texto, Steven rebate alguns argumentos usados pelos defensores da astrologia moderna, como que a astrologia tradicional é “fatalista” e a astrologia moderna “ajuda o desenvolvimento espiritual” do ser humano. Eu dividi o texto em “temas” pra facilitar a organização da leitura.
Espero que gostem tanto quanto eu, ele é editado de uma discussão. Steven é americano, já foi missionário religioso em vários países do terceiro mundo, inclusive no Brasil, e até hoje ajuda a sustentar um orfanato craido em Salinas. É engenheiro e hoje mora na Noruega. Traduziu alguns trabalhos do Project Hindsight, se eu não me engano foi On Solar Revolutions, do árabe Abu mashar, a partir do texto em Latim.
Se tudo está predeterminado na carta astral, e você não pode fazer nada a respeito para mudá-la, por que se importar em estudar astrologia ?
Primeiro, vamos deixar claro que ninguém disse que tudo estava pré-determinado. As pessoas pensam que conhecimento antecipado é a mesma coisa que predestinação. Muitos que nunca dedicaram realmente tempo para estudar o que os antigos ensinavam, aparentemente pensam que a astrologia tradicional é um meio de descobrir qual a cor das meias que eu vou usar amanhã. Não é assim.
As casas astrológicas eram os “acidentes” ou circunstâncias que são comuns para TODAS as pessoas. A Bíblia diz simplesmente: “Não há tentação que te corrompa como aquela que é comum a todos os homens”
Quais são essas circunstâncias e como elas se manifestam para cada indivíduo é o que torna única a vida de cada um. Todos temos escolhas dentro de limitações. Eu posso escolher o que vou fazer com a minha sorte ou com meu azar. Eu posso contar em uma mão o número de cartas que eu analisei que indicam pouca adversidade. Não existe ninguém nesse mundo que não enfrentará adversidade, transtornos e problemas em algum grau. Todos temos Marte e Saturno em nossas cartas. Todos temos os benéficos em nossas cartas.
Existe em cada pessoa as possibilidades de fortuna e infortúnios. Conhecimento sobre esses dois, antes que eles venham, não muda as circunstâncias quando eles aparecem. Mas o conhecimento prepara a pessoa para o que pode ser feito a respeito.
Em 2004, se as pessoas soubessem que um Tsunami se aproximava, obviamente elas teriam fugido de seu caminho! O Aviso não mudaria o evento ou sua natureza, e as pessoas ainda assim teriam perdido suas casas e posses, mas não teriam perdido suas vidas.
Onde existe vida, existe oportunidade e esperança.
Eu não posso impedir os pássaros de voar sobre minha cabeça, mas eu posso impedir que eles façam um ninho no meu cabelo.
Em 1999, Eu sabia que eu teria sérios problemas de saúde no futuro próximo, e que eles me colocariam numa situação onde eu não poderia trabalhar novamente. Assim, eu fiz um seguro da hipoteca, de maneira que minha família não ficasse com dívidas. Se eu não tivesse feito isso na época, hoje teria sido impossível, porque eles não fazem seguro de pessoas com os meus problemas! [Steven tinha um grave problema de costas do qual está parcialmente recuperado]

Sabendo que tempos difíceis estavam vindo, nós todos fizemos um esforço concentrado para economizar dinheiro e reduzir as despesas. Eu estava com boa saúde nessa época. Eu previ as circunstâncias específicas, eu sabia que eu teria problemas, muito provavelmente com as minhas costas. Saber que circunstâncias estavam chegando não às mudou. Eu não tinha possibilidade de escolha nesse sentido.
Mas eu tive a oportunidade de tomar decisões baseadas nesse conhecimento, decisões que me ajudaram a amenizar as circunstâncias. Estar avisado é estar preparado!
De que vale determinar que alguém nunca terá sucesso ou está condenado uma existência miserável ?
A Vida!… é algo que vale a pena viver, independendo de nossas definições de “existência miserável”. Qual é a definição “correta” de sucesso ou fracasso? A maioria dos ocidentais que eu conheço são as pessoas mais infelizes e miseráveis que já encontrei na vida, e eu vivi na África, Oriente Médio, Índia, Afeganistão, Bangladesh, por toda a Europa e na antiga União Soviética. Eu vivi, e trabalhei ajudando, no meio das piores tragédias e sofrimentos imagináveis. A Bíblia ensina que “se tiver comida e roupas para se cobrir, esteja contente”. Eu lido com clientes diariamente; pessoas com problemas reais, e dizer a eles que se eles deveriam entrar em contato com algum “potencial mágico” [como a astrologia moderna faz] não os ajuda a lidar com as situações que enfrentam e tomar boas decisões
.
Os três pilares da astrologia moderna

Antes de eu começar a estudar astrologia tradicional, eu passei 20 anos estudando astrologia moderna. Eu fui treinado com astrólogos como Liz Greene e
Howard Sasportas pouco antes de sua morte. Por isso eu digo que sei muito bem o que a astrologia moderna realmente ensina.

Todos na civilização ocidental ouvem, dia após dia, o que fará com que elas sejam felizes, e isso dito por pessoas que tem apenas um interesse… fazer com que elas próprias sejam felizes. Elas pregam o que elas praticam e é ensinado que se todo mundo praticar esse credo, todos serão felizes.
Nesse ponto necessitamos parar e examinar os pilares da astrologia moderna: autoconhecimento, autoestima e autovalor. Na sociedade de hoje esses valores são tão automaticamente aceitos que é como discordar da proposição “bebês são bonitinhos”. Mesmo assim, essas ideias exigem uma análise mais aprofundada, porque ideias, como jogos de cozinha, em geral vêm em conjuntos, e algumas das noções que acompanham nossa “fé” em autoconhecimento não são tão charmosas e bonitinhas quantos bebezinhos.
Uma das soluções mais aceitas e comuns entre a comunidade astrológica é que através do autoconhecimento nós vamos entender a nós mesmos e aos outros e que isso resulta em autoestima e um sentido de autovalor, o que nos leva automaticamente a ter sucesso. Afinal de contas “é importante gostar de você mesmo” e “se você não gostar de você mesmo, ninguém vai”. De acordo com essa visão de mundo, pessoas que descobrem seu autovalor e se elevam a um “nível superior de consciência” não precisam mais lidar com coisas feias ou desagradáveis, e por isso mesmo essas coisas não acontecerão mais para elas [Yuzuru: apenas para nós, pobres mortais não evoluídos na escala cósmica].

A sociedade do “eu me amo”

Por favor, note que eu não estou sugerindo que “sentir-se bem sobre si mesmo” é algo mal em si mesmo. Ou que você deveria passar o dia chorando e se martirizando. Uma atitude mental positiva pode trazer forças que não sabíamos que tínhamos, mas também não pode realizar milagres. Se eu tenho 5 dólares no meu bolso, apenas ficar imaginando que eu tenho mais não fará com que eu compre um iate. É necessário senso de negócios, oportunidade e trabalho para se converter os cinco dólares em quinhentos mil dólares.
Imaginar que temos um místico senso de negócios quando na realidade não o temos não ajuda. Mas não acaba aqui, e é muito pior quando esses mesmos gurus sugerem que, como nós determinamos a realidade apenas nossa própria vontade individual, que nós não necessitamos mais de religião, comunidade, tradição e família. Nós somos Deus, e tudo que é necessário é achar o deus dentro de nós. A ideia de que só precisamos de nosso próprio amor, e de ninguém mais, é uma ficção perigosa que cria um excesso de individualismo e tem como resultado os índices de suicídio, divórcio, solidão e depressão comuns em nossa sociedade.
A base para o “autoconhecimento” hoje em dia está em que ninguém é uma má pessoa, todos somos apenas “incompreendidos”. A dúvida é porque alguém realmente iria aceitar essa premissa. É importante notar que mesmo Freud nunca acreditou nisso, muito pelo contrário, e inclusive observou em ‘Civilization and it’s Discontents” que o homem é o lobo do homem. Mesmo assim os defensores de uma visão “psicológica” do homem frequentemente ignoram essa observação.
A astrologia do “pensamento positivo”
Quando adotamos essa doutrina da autoestima e do pensamento positivo, temos também que adotar todas as consequências do individualismo que levam a esse “pensamento fantasioso”, porque na verdade é isso que ouvimos todos os dias… que devemos fantasiar.

A astrologia moderna olha para o mapa e nos fala sobre o nosso “potencial” e como podemos desenvolver esses potenciais, potenciais que lutamos para alcançar e estar à sua altura. O problema é que o “potencial” pode ou não se realizar. O que acontece quando nós não conseguimos viver dentro do padrão estabelecido por nossas expectativas. Entender a nós mesmos não é a mesma coisa que determinar as realizações de nós mesmos. Entendimento implica diferenciar entre o que podemos e não podemos fazer. É conhecer nossos limites e os limites do que podemos fazer. É simplesmente reconhecer que a alguns são dados cinco talentos, a outros três, e a outros apenas um. O que nos torna “iguais” é a habilidade de escolher o que fazer com o que nos é dado. Dizer “bem, eu tenho apenas um talento, então não vou nem tentar” é derrotismo. Comparar esse talento com os outros cinco que outras pessoas podem ter é um desserviço. Ser sincero é determinar o que alguém pode fazer com o seu talento é honestidade. As pessoas estão cansadas de que digam para elas que elas têm esse e aquele potencial, e depois nunca conseguem concretizá-lo, e ficando deprimidas ou amargas porque alguém mentiu pra elas sobre as imensas “possibilidades” e “potenciais” que elas tinham para o futuro.
Eu tenho uma prática concorrida porque meus clientes sabem que eles podem me consultar e eu serei honesto, eu tentarei ajudá-los a trabalhar com suas circunstâncias.
A astrologia moderna serve à nova “religião secular” do humanismo, e assim busca validar sua “religião”. A razão que você encontrará a astrologia tradicional em todas as práticas religiosas antigas, como o Sabeanismo, o Hermeticismo, a Qabal’ah, o Islã e a Cristianidade é porque a astrologia tradicional não é subordinada a nenhuma religião. Ela valida a vida, independentemente da religião.
A vida não é uma questão de sucesso ou fracasso, conquista ou azar, nem tampouco sobre bem ou mal; é uma questão de atravessá-la e experimentá-la realmente, transformando uma vida “medíocre” em algo excepcional porque foram vidas vividas excepcionalmente bem. Se tudo o que eu posso ser na vida é um astrólogo medíocre, eu serei o melhor astrólogo medíocre da região!



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